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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

GUERREIRO DO ASFALTO(conto)


O calor é de matar. A vegetação miserável aparece hora aqui e hora ali, por intermédio de alguns caquitos. Um dos poucos seres que parece gostar do deserto além de mim. Aqui não vejo Oasis ou miragens, é o deserto simples e plano com o chão escasso o qual nada cresce. O ar é quente como o de uma fornalha. Brisas fortes no terreno plano se fazem. Fortes e aquecidas. Um sopro da boca de um vulcão. O sol reina no alto dos céus com nenhuma nuvem ao seu encalço. Quer ser soberano, reina sozinho sobre o céu do deserto, O chão amarelo-alaranjado do deserto dardeja. Não se pode andar descalço. Ao longe o asfalto fica turvo, balança como fogo. Não chove sabe-se lá a quantos dias. Uma terra nada convidativa. Uma terra onde não se vive, se sobrevive.

Nesse clima, eu, Tony tornado, cruzava a estrada do deserto abordo de meu Opalla metálico azul. Com óculos de lentes vermelhas sobre os olhos, dando a sensação de que o deserto era o próprio inferno e eu a única alma que habitava perdida. A pintura metálica de meu Opalla brilhava, as bordas das laterais cromadas refletiam o sol como espelhos. Suava em bicas. Minha camiseta branca e sem mangas, estava encharcada. E na lateral do meu olho esquerdo, uma gota de suor deslizava se perdendo em minha barba mal feita, mas logo depois se achando e declinando do canto do maxilar para o pescoço, deslizando até somar mais suor na minha camiseta branca.
Meu Opalla a 180Km/h rasgava o deserto, deixando um zumbido pelo ar que cortava. E o motor rangia sem parar numa continua violência e velocidade. O asfalto estava quente, e meu Opalla só o ajudava a pegar fogo. Liguei o rádio. Estava já sintonizado. Uma música sulista norte-americana invadiu o interior do carro. Estava no volume máximo. Uma música do ZZ top. Um sorriso de canto mostrando os dentes surgiu-me mecanicamente por sentir a brisa da liberdade que meu Opalla cortava ao meio. E a vontade de pisar ainda mais fundo na tábua me assaltou e conseguiu o que queria. O Opalla rangeu mais forte e disparou mais rápido. Se batesse o metal se contorceria como papel. Mas nada havia, nenhum obstáculo. Apenas estrada e mais estrada num terreno plano, calorento e desértico.
Não havia maior liberdade que essa. Apenas eu, a mais de 200Km/h abordo de meu Opalla metálico azul. Eu e mais ninguém. Não era solidão. Solidão é estar dentro de um quarto envolto por quatro paredes, sozinho. Eu estava em movimento. Com um braço no volante e o outro tirando o cigarro da boca, o pondo para fora da janela com o fumo formando uma linha de fumaça que se perdia no ar. Eu estava livre, não solitário. Poderia parar o carro e ficar nu no meio da estrada. Urinar no asfalto. Fazer de tudo ou nada, desde que fosse o que eu quisesse. Estava inebriado com as doses exacerbadas de liberdade.
Conhecia essa região, estava próximo a um posto de gasolina, hora ou outra iria aparecer diminuto no final da estrada. Olhei o retrovisor e vi que um Camaro alaranjado se aproximava. Diminuí a velocidade. O Camaro encostou do meu lado. Revelando um sujeito careca, de bigode loiro, óculos negros e bandana com estampas de caveiras de fogo. Um cara estilo motoqueiro. Suas tatuagens grandes e expressivas subiam pelos braços. Luvas negras de couro vestiam suas mãos deixando desnudos seus grossos e experientes punhos. Com a mão direita levantou os óculos os prendendo acima dos olhos, na bandana. Olhou pra mim com cara de mal encarado e me amostrou um cotôco. Virou o cotôco pra frente do carro juntamente com os olhos rumando a direção da estrada. Entendi o sinal. Estava me desafiando para uma corrida, um racha. O posto de gasolina ao longe porém visível, era o ponto de chegada. A vitória não garantiria prêmio, apenas a certeza que o vencedor era melhor que o perdedor, que o carro de um era melhor que o outro. Que um era mais macho que outro. Isso era suficiente.
Os motores raivosos se tornaram enfurecidos quando ambos despencamos os pés sobre as tabuas dos veículos e soltamos as mãos sobre as máximas marchas. Era questão de honra. Era uma batalha as quais covardes fugiam. Mas não nós. Homens honoráveis e destemidos e temidos que de nada fogem, nem da própria morte se necessário. Que nutrem uma sede intensa por liberdade e uma fome incessante pelo perigo. Somos a almas de nossos motores. Somos guerreiros do asfalto.
E era nessa estrada. Cravejada no meio do deserto que o racha iria acontecer. Que a batalha iria ser travada. Era lataria azul contra lataria alaranjada. Era Opalla contra Camaro. Era eu, Tony Tornado, contra um sujeito metido a besta que ofendeu minha honra com um simples dedo. Os motores brutos gritavam rouco. Meu cigarro foi atirado ao ar, e abandonado pousou com as pontas levemente inflamadas no calor do asfalto. Minha visão rumava apenas um ponto e nada mais. O posto de gasolina. Meus dois braços seguravam firme as laterais do volante, como um piloto de fórmula 1. O zumbido dos carros estava no ar. Antes da lente vermelha de meus óculos, meus olhos penetravam a estrada do deserto vermelho. “Deserto no inferno, corrida no inferno.” Foi o que pensei. Nada aceitava se não a vitória, nada além dela. Nada se não ela. A ultima marcha havia sido engatada. A velocidade máxima estava quase sendo alcançada. A gora não dependia apenas de mim, mas também da potencia de minha belezura. De meu Opalla metálico azul. Eu era o cavaleiro. Meu Opalla o cavalo, a armadura, o escudo e a espada. Com um só objetivo éramos um só. O objetivo da vitória.
Já estávamos a ¾ do percurso. O posto de gasolina diminuto e longiguo,tinha dado lugar a um posto de grande estrutura, com uma lanchonete e uma loja de conveniências. Estávamos bem próximos do ponto de chegada. Víamos até alguns funcionários do posto se grupando para juntos abservarem o espetáculo grátis que esses dois carros clássicos de uma velocidade arrasadora entregavam ao deserto.
Meu Opalla não agüentava mais. O Camaro alaranjado vinha perdendo até este ponto, embora o percurso inteiro tivesse sido bastante equilibrado. Mas então o motorista careca havia tomado a ponta. Certamente um tipo de carro com o arranque regular, mas compensado por uma velocidade máxima maior. Um carro bom pra correr maiores percursos e não o contrário. Meu Opalla não iria aumentar de velocidade 1km/h se quer, e mesmo assim estava atrás do Camaro alaranjado que parecia a cada meio segundo aumentar cada vez mais sua velocidade. Estava visivelmente claro eu e meu Opalla iríamos levar a pior nessa corrida. Que eu teria que engolir aquele cotôco de cabeça baixa e com o rabo entre as pernas. Minha honra perderia muitos pontos na carteira!
Tinha que fazer algo se não quisesse perder. E de fato não queria. A única alternativa que restava... O único às na manga, era na verdade uma opção deveras perigosa. Um ato que poderia tirar a minha vida sem qualquer pudor. E quem sabe a vida de meu rival também. E na pior das hipóteses, levar junto um ou dois funcionários do posto.
Meu carro ao lado do Camaro tinha condições de executar o tal ato. Estava atrás em posição, mas a ponta de meu capô compreendia a porta lateral do camaro e, portanto ainda estava ao lado dele. O feito perigoso constava em atirar meu carro na lateral do outro carro. O que naquela velocidade, poderia ocasionar capotagens severas para ambos o pilotos e entre outras formas de acidentes trágicos. Pois como disse anteriormente, uma batida em velocidade alta contorceria o metal como papel. Mas ao contrário daquele momento, o qual não havia corpo que pudesse resultar em batida, agora havia. E não só isso. Pois a situação me forçava a me jogar contra esse corpo no asfalto. Me forçava a atira-me ao Camaro alaranjado para que então obtivesse a vitória.
Sem muito pensar e engolido pela avalanche da ânsia de vitória a qualquer custo, um sorriso de satisfação nasceu, antes de atirar meu Opalla contra o Camaro. O motorista bigodudo do Camaro não acreditou na manobra brusca e perigosa a qual eu me submeti. Pisou no freio na tentativa de não se enroscar ao meu Opalla e morrer no calor do deserto. Seu carro derrapou fazendo vários giros no asfalto, deixando marcas negras de pneus na estrada. Eu e meu Opalla cruzamos a linha de chegada imaginária a risadas e ao som de “Viva Las Vegas”. E claro, aos olhos esbugalhados dos funcionários do posto de gasolina.
Ganhei essa corrida por saber que um dia vou morrer. Por ter essa consciência vigente. E se for pra morrer velho entre quatro paredes de um hospital, preso e acabado em problemas de saúde, prefiro morrer agora a 250Km/h a bordo de meu Opalla metálico azul voando sobre o céu da liberdade. Venci porque não temo a morte e porque nada temo. Porque em mim dardeja a chama incessante do perigo. Porque sou a alma do motor. Porque sou um homem honorável. Porque sou Tony Tornado. Um legitimo guerreiro do asfalto.

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“Deus, porque eu tenho que gastar 2 horas do domingo na igreja ouvindo as diferentes maneiras que irei para o inferno?”


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