TAIS GOTAS DE CHUVA(poesia)
Chovia forte
As gotas de chuva, o chão, atropelavam
Se chocando e formando crateras na água
Que em breves centésimos se deformavam
A chuva caía
Nas folhas do alto, se pondo a descer
Gotas escorrendo de folha sobre folha
Deslizando até a areia umedecer
Na água doce
O cinza do mar, denso e embaçado
Beijava o cinza do céu sem horizonte
Um beijo sem lábios, eternizado
O frescor da chuva
Penetrava em meus pulmões embriagando
Com o dócil cheiro de terra molhada
No seu refrigério me purificando
Meu cabelo
De castanho a um negro se tornava
E nos traçados curvos do meu rosto
A água em mil vias serpenteava
Olhei para ti
Sentada no raso, sem nenhum sorriso
Não com lábios montados na seriedade
Mas um tanto serenos e adormecidos
Teus caracóis
Já encharcados não são tão cacheados
Mas, rebeldes, ainda assim levemente
Ondulam sobre teus belos traçados
Teus mudos olhos
Não miram a mescla do céu e do mar
Em tangente olham pra dentro de ti
Para tua vida se põem a olhar
Pensas em algo
Nas reentrâncias do labirinto da vida
Rondando em alguma dessas dobras
Onde se é difícil achar saída
Meus pés se erguem
Do rio vão em direção ao raso
Passo a passo guiados por tua imagem
Saindo do fundo, sentando ao teu lado
A chuva forte
Com o ritmo intenso perdurava
Quando ao teu lado olhava tua face
Onde uma gota do teu queixo deslizava
Vi que eras linda
E o quanto queria te ter em minha vida
Tê-la comigo com todo exagero
Por durante os longos e os breves dias
Sem muito pensar
Movi meus dedos em direção ao teu queixo
E logo depois de tê-lo alcançado
O voltei para mim sem qualquer receio
Então teus olhos
Surpresos, acordados e instintivos
Demonstravam saber do que se tratava
Quando penetraram os meus por magnetismo
Então meus olhos
Mais perto dos teus se aproximavam
Sentia tua serena respiração
Quando minhas pálpebras se fecharam
Senti tua carne
Quando naufraguei nos teus lábios molhados
Não se roçaram famintos e sedentos
Se conheciam com ternura, abraçados
Te senti minha
Como se da minha vida já fizesse parte
Como se tudo em ti fosse um pouco meu
Teus sonhos, desejos e a tua carne
Segurei tua mão
E depois de sorrirmos na areia nos deitamos
Com as ondas acertando nossas pernas
E o vento a face massageando
Nada havia
A sede humana por obter mais e mais
O descontento com aquilo o que lhe cabe
Tudo me abandonou sem olhar pra trás
Nada mais que tu
E o cinza de uma chuva forte de verão
Eternizando em minhas lembranças
O quanto era bom o calor da tua mão
Satisfeito
Soube que o que persegui uma vida inteira
Finalmente em mim tão leve repousava
O ápice da felicidade perfeita
Olhava para o céu
E a chuva nos meus olhos não causava dor
Pois na madrugada vaga e escura
Despertei de um sonho que acabou.
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